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sábado, 20 de fevereiro de 2010

Salve Geral



No ultimo sábado tive a oportunidade de assistir ao filme Salve Geral, do diretor Sérgio Resende.
O filme retrata a onda de violência vivida em São Paulo em maio de 2006, onde a cidade sofrera inúmeras ações de violência que fez a maior cidade do país parar num toque de recolher determinado pelo PCC. Algo realmente sem precedentes, apesar de ser uma ameaça real, que sempre esteve ali embaixo de nosso nariz.
Como pano de fundo, a interpretação fantástica de Andréa Beltrão, que faz a mãe de um adolescente que por um “incidente” acaba matando sem querer uma jovem, e caindo da cova dos leões: a cadeia.
Assistindo ao filme é possível chegar a mais intragável e realista conclusão: Não é um relato do bem contra o mal, onde os super heróis da polícia salvarão os mocinhos(as) (a população) das mãos dos bandidos.
Há sim uma guerra de interesses particulares, uma guerra de egos inflados e de ambições ilimitadas. Uma guerra da pobreza inconformada com uma sociedade desigual, e que encontra por meios criminosos, a chance de ver algo acontecer.
Há uma ideologia por traz de cada um daqueles homens perigosos. A vontade de crer em algo, mesmo que o algo seja a violência. Há uma necessidade gritante de se fazer ouvir, de se sentir parte de uma sociedade, e quando essa não se dispõe a abrigá-los, cria-se uma com suas próprias leis. A sociedade do crime.
Na retrospectiva 2006 dos maiores jornais do país, figura a seguinte manchete: 16 de maio - Chega ao final a primeira onda de ataques a alvos policiais e civis em São Paulo. A Secretaria de Segurança Pública (SSP) anuncia os números finais da crise: foram 251 ataques, com 115 mortos e 115 suspeitos presos. Entre os mortos estão 32 policiais (civis e militares), 8 carcereiros, 4 civis e 71 suspeitos de fazerem parte da organização dos ataques.
Enquanto nas penitenciarias em rebelião, os presos ligados ao “partido” (é assim que é tratado o PCC por seus integrantes), bradam o lema decorado por todos: Paz, justiça e liberdade, a bomba relógio é ativada, deixando menos tempo para os “desavisados” cidadãos.
O “Salve” foi o nome dado ao o recado claro endereçado a 200 mil integrantes do partido espalhados pela cidade, e não deixava duvidas: A ordem era uma “festa” em cada bairro. Leia-se: Um atentado violento deveria ocorrer simultaneamente por toda a cidade. Os alvos eram principalmente policiais de todas as divisões. Além de shoppings, aeroportos e demais estabelecimentos que, sendo alvos de ataques, causassem um horror generalizado.
O motivo: A transferência do mais alto escalão do “partido” a uma prisão de segurança máxima, onde se supõe, estariam impedidos de continuar dando as ordens a seus “filiados”.
Mas algo em particular me chamou atenção no filme. Em uma das cenas, Chico (um dos chefões do PCC), já na penitenciária de segurança máxima, recebe a refeição em sua cela.
Cela esta, que comparada ao cubículo insalubre que dividia com mais um incontável numero de presos, podia ser considerada a suíte presidencial do Copacabana Palace.
A grosso modo, era um preso que vivia em condições sub humanas, numa cela fétida e superlotada, onde era necessário fazer rodízio com os demais para dormir, já que não lugar para todos. A bem da verdade não havia lugar nem para 1/3 deles.
Mas ele (assim como os demais), não admitiam trocar seus centímetros quadrados em suas celas, onde eram os poderosos, por um lugar com celas individuais, com colchões confortáveis e roupas limpas. Não.
E não admitiam justamente por serem ali, apenas mais um.
Nas detenções provisórias, onde manda quem tem “cargo” e obedece quem tem medo de morrer, eles eram os juízes, os algozes e os diretores da organização criminosa. Ênfase na “organização”, pois eis um exemplo de “sociedade” em que a organização impera e as leis são implacáveis: O PCC.
E esse poder não pode ser minimizado, já que foi por meio deste que se conseguiu parar e aterrorizar uma cidade do porte de São Paulo. Não é pouco, não é pra qualquer um.
No PCC não há desobediência, traição e roubo interno. Quando há, a mesma é paga com a vida.
E os julgamentos, ao contrário da justiça comum, não dependem de longas burocracias, de inquéritos intermináveis, de recursos que prorrogam decisões e alimentam a sensação de impunidade.
Não. Lá, os julgamentos são full time, e a pena de morte é legitima.
Dependem de um simples telefonema, que determina se o fulano em questão “sobe” (morre), ou se permanece tendo o direito de seguir do partido.
Encalacrado numa situação de terror generalizado, o secretário de justiça no filme, vai até a prisão “negociar” com os presos numa tentativa desesperada de tentar desativar a “bomba atômica” que pairava sobre a cidade. Não havia muitas opções. A opção era atender as exigências dos detentos, ou o que se veria nos dias seguintes seria um mar de sangue morte e destruição pelas ruas. Não houve jeito: Cederam. E “éticos” que são, os chefões do crime, deram a ordem de cessar fogo aos 200 mil “seguidores do partido” – número informado pelos mesmos.
Longe de mim, fazer apologia ao crime, mas às vezes penso que se a justiça observasse mais como funciona a organização do crime, poderia de lá tirar valiosas lições, inclusive de ética, pois ela há.
O nome do filme é Salve Geral, mas poderia bem ser um Salve-se Quem Puder, pois é somente o que nos resta.
Então tá.
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