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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Mulher de Novela



As mulheres de novela dormem maquiadas e acordam intactas e sem olheiras.
Na vida real, a pessoa tenta tirar a maquiagem antes de dormir e mesmo assim acorda com um desenho abstrato preto no rosto. Delineador vagabundo!
Ela dorme sem desarrumar a cama e sem derrubar os travesseiros no chão.
A mulher real costuma acordar com o edredom embolado e a cabeça pra fora da cama.
Ela usa um chambre de cetim que não amarrota, um rímel que não escorre e um cabelo que não desgrenha.
Mulher de verdade usa pijama de algodão, um rímel que gruda as pálpebras e não permite abrir os olhos pela manhã. O  cabelo dispensa comentários
Suas pantufas são de salto e enfeitadas de plumas.
Mulher de verdade tem uma pantufa de pelos ou um havaianas
O espelho do seu banheiro, é sempre igual ao do melhor camarim de Hollywood.
O da vida real normalmente é um 3x4 com uma lâmpada que faz sombra e aumenta as olheiras.
Sua janela dá sempre de frente para o mar e quando abrem as cortinas o dia é sempre ensolarado.
As janelas da vida real as vezes emperram, mas quando abrem normalmente está chovendo. Ou então o asfalto está fritando num calor africano. Não existe o meio termo.
Seu quarto fica sempre no andar de cima, e a escada suntuosa cai sempre numa sala vasta e arejada.
O quarto da vida real fica normalmente perto da cozinha e do banheiro.
Seu café da manhã está sempre posto quando ela acorda.
A mulher real normalmente toma café a caminho do trabalho, quando toma. Ou então, um requentado do dia anterior, com duas bolachinhas água e sal degustado a beira da pia, enquanto o banheiro está ocupado.
A mesa delas é farta e normalmente composta de frutas de todas as estações, sempre reluzentes.
A realidade é que a fruteira da casa da gente está geralmente vazia.
Há sempre um mordomo disponível para servi-las com o mais delicioso suco de laranja.
Normalmente o suco de caixinha da geladeira está acabando e não dá pra encher um copo.
Elas lêem o jornal sentadas à mesa.
Nós, sentadas na poltrona do ônibus.
O pneu do carro delas nunca fura. Quando fura, há sempre um gato pra ajudar na empreitada.
O do carro da gente fura, no meio de um transito infernal, numa estrada sem acostamento e quando acaba a bateria do celular.
Seus filhos são bem educados, falam num volume aceitável e não fazem birra.
Os nossos se atiram no chão no supermercado, dizem sem rodeios que detestaram um presente e correm como animais fugindo do abate quando os mandamos tomar banho.
Elas decidem o que querem no jantar.
Nós, decidimos que não queremos ter de fazer o jantar.
Elas não menstruam, não têm cólicas ou TPM.
Nós costumamos trabalhar “de arrasto” durante aquela interminável semana.
Elas podem sempre usar biquínis: a qualquer hora do dia ou da noite, pois estão sempre bem depiladas e bronzeadas.
Nossos pêlos encravam, e o bronzeado há muito já desbotou.
Elas podem repetir a cena, gravar novamente, cuidar com a luz, o som, a temperatura, o cabelo e a maquiagem, o melhor ângulo.
E quando há uma situação que chegue ao risco iminente: tchanan (musiquinha de suspense):
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 A seguir, cenas do próximo capítulo.

E eis que chega o grande dia, em que, não bastasse todo o resto ela encontrará seu príncipe, e Eles viverão felizes para sempre.

Já sei o que eu quero ser quando crescer: Mulher de Novela.


Então tá.


terça-feira, 21 de setembro de 2010

Não dou pra coisa



Eu nunca fui uma pessoa corajosa. Pelo menos não corajosa no que diz respeito a situações que envolvam adrenalina.
Fico boba com gente que pratica esportes radicais, acho mesmo que deve ser uma sensação pra lá de prazerosa, mas de minha parte, agradeço.
Confesso que até já tentei na adolescência algo nesse sentido mas obtive êxito em nenhuma delas.
Primeiro tentei ser escoteira. Na verdade fui durante uma semana, até que chegou o fatídico dia do acampamento e uma das minhas tarefas era atravessar de um barranco a outro no meio do mato, deitada em cima de uma corda.
Não teve cristo que me fizesse chegar perto do barranco, quiçá da corda.
Passei dois dias “inesquecíveis” e –para mim – aterrorizantes.
Dormi em barraca, fiquei em volta de fogueira tentando impedir que mosquitos me carregassem dali – eu até pensei em usá-los como plano de fuga, mas não rolou.
Caminhei léguas mato a dentro esfolando as pernas, braços e rosto em galhos de árvores e arranquei o couro dos pés calçando uma botina horrorosa. A principio ela deveria proteger meus pés, acontece que com meias pouco apropriadas e os pés molhados- sim, entrar banhado a dentro fazia parte do pacote – elas contribuíram muito para a mutilação dos meus pés.
O banho era de imersão. Não fosse pelo fato de ser num córrego gelado, até me agradaria.
O toque de acordar, as 05h da manhã era bastante sutil. O chefe do grupo passava de barraca em barraca com uma buzina de som estridente ensurdecedor.
Totalmente desnecessário para quem como eu, passou a noite em claro imaginando o momento que algum bicho selvagem invadiria a barraca e devoraria a mim e aos colegas de “quarto”.
O café da manhã era passado numa panela torta e enferrujada, com o pó misturado na água morna. Fiquei só com a água.
Lá pelas tantas me mandaram encher o cantil do pessoal do grupo. Como se eu soubesse o que era isso. Quando eu descobri, me vi com uns 20 exemplares nas mãos. Considerando que a “torneira” natural mais próxima ficada a kms de distancia, e eu teria de levar os tais objetos pendurados no pescoço e depois trazê-los cheios, desejei saber que mal eu tinha feito a vida para estar sendo tão castigada.
Descobri ali meu total desacerto com a vida no campo.
Não gosto de mato, mosquito, fogueira, lampião e tenho verdadeira aversão à barracas. Me convide para acampar e perca a amiga. Me nego.
Desisti de ser escoteira.
Não dei pra coisa.
Certa vez, ainda nessas de testar minha radicalidade, resolvi andar no tal Barco Viking num parque de diversões de um shopping.
Lembro-me perfeitamente das duas subidas e descidas que ele deu, até que minha mãe intercedesse para o “maquinista” parar o brinquedo antes que eu morresse lá em cima. E era realmente uma questão de tempo.
Sensibilizado com minha cor fantasmagórica, o rapaz parou o brinquedo para que eu descesse. E quem disse que eu conseguia descer?
As pernas travaram de tal forma, que um segurança veio me tirar la de dentro. Jurei que nunca mais andaria nesses brinquedos.
Mas, por força da teimosia e do espírito adolescente facilmente influenciável, ainda fiz mais uma tentativa, desta vez num outro brinquedo em um parque do litoral.
Estávamos eu e mais duas amigas, e elas resolveram andar num brinquedo chamado Crazy Dance. O nome era simpático, mas nada mais era do que um negócio que girava sem parar e numa velocidade absurda. Girava para todos os lados possíveis e imagináveis, enquanto eu era sacudida e sentia como se os ossos estivessem soltando do meu corpo um a um. A cabeça, eu tinha certeza, seria desparafusada do pescoço a qualquer momento.
A coisa toda deve ter durado uns três minutos, se muito. Eu chacoalhei durante os três dias seguintes. Com a ajuda de algum ser piedoso, consegui chegar até em casa e vomitar até a alma.
Acordei com a sensação de ter tomado um porre sem precedentes. A cabeça girava e os ossos (aqueles que pareciam ter se soltado do corpo), pareciam ter sido triturados em seguida.
Não dei pra coisa [2]
Mas aí a pessoa cresce, tem uma filha que como toda a criança é uma destemida de plantão. E chega então a fase de levá-la ao parque.
Até que um dia, no parque da Xuxa, ela me convence a andar num brinquedo aparentemente inofensivo, cujo o carrinho dava algumas voltas e caia na água.
Pensei comigo: Não posso decepcionar. Inflei o peito e fui.
Infelizmente, havia uma parte do brinquedo que não era aparente, onde o carrinho descia uma ribanceira monumental antes de cair na tal piscina d’água.
Estávamos só as duas no carrinho. Ela a frente, entre minhas pernas e eu atrás a segurando.
Tudo ia bem, até que enxerguei a ribanceira. Foi a ultima coisa que vi.
Depois da volta completa, eu voltei do transe com a minha filha me sacudindo aos gritos: MANHEEEEE...PÁRA DE GRITAR E ME SOLTA!
Ela me ajudou a descer.
Ela. A pessoinha com 5 anos, me acalmando da histeria.
Hoje, quando minha filha me diz que sonha em conhecer a Disney, já posso vê-la voando as tranças nos mais inimagináveis brinquedos.
E me vejo também. Posando ao lado do Mickey, da Minnie e toda a turma para uma sessão de interminável de fotos.
Dos brinquedos, só chegarei perto para segurar sua mãozinha e levá-la até a fila se for preciso. Mais do que isso, me declaro incapaz.
Ela com certeza irá, pois a coragem que me falta, transborda nela.

A mim, resta a coragem de encorajá-la a fazer algo que eu definitivamente não tenho o dom.

Então tá!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O chato do avião


Eu tenho profunda vocação para o silêncio sepulcral nas primeiras horas da manhã.
Até porque, quem me conhece sabe que eu só acordo mesmo, muito tempo depois de levantar. Nas primeiras horas, todos os movimentos são meio automáticos e totalmente em slow motion.
A sorte é que minha escova de dentes já sabe o caminho da boca, pois nem para isso eu abro bem os olhos.
Entendo perfeitamente que nem todas as pessoas hajam da mesma forma. Tem gente por exemplo que acorda conversando com todos a seu redor como se fosse três da tarde. Outros que acordam ligados no 220W, fazendo várias coisas ao mesmo tempo, ligando a TV, o rádio etc.
Até  aí, nenhum problema. Desde que, é claro, esta outra tribo não me exija reciprocidade.
Não, eu não dou bom dia para as plantas, não saúdo o sol, a chuva ou o vento.
Não rego as plantas ao acordar, não abro as janelas, não checo as correspondências, nem tomo qualquer decisão. Nem mesmo da roupa que vou usar no dia, já que o uso do uniforme me permite economizar neurônios até nisto.
O mais próximo que chego da natureza ao acordar é quando ainda dormindo me enfio embaixo do chuveiro e abro a janela do banheiro pra espiar se preciso ou não levar o guarda chuva.
Pra ajudar, tenho a sorte de usar um meio de transporte bastante confortável a caminho do trabalho e que me permite dormir profundamente na quase uma hora do trajeto casa-empresa.
Janelas fechadas, ambiente quentinho, bancos leitos confortáveis, pessoas educadas e o mais importante: caladas. Eis o cenário perfeito para o meu “sono plus” matinal. Pra ficar bem próximo ao paraíso, só se o trajeto fosse mais longo e eu ficasse ali por horas a  fio. Mas já me dou por satisfeita, pois consigo baixar um pouco meu banco de horas negativo de sono, já que de dormir cedo eu definitivamente já desisti.
O problema de ter tudo assim tão do jeito que me agrade, é que quando preciso por algum motivo sair da rotina, o bicho pega.
Hoje foi um desses dias. Precisei viajar a trabalho e meu vôo para São Paulo estava marcado par as 07h. Isto posto, eu deveria estar no aeroporto as 06h, o que significa que precisei sair de casa as 05h e que portanto precisei acordar as 04h30. Tendo em vista que não há chá de camomila que me faça dormir antes da meia noite, eu havia quando muito, dormido 04 horas.
Dormir 08h para mim é mais do INsuficiente. Eu sempre digo que serei realmente feliz o dia que puder dormir 10,12horas por dia. Ok, preciso continuar jogando na mega sena para isto, mas sonhar (mesmo que acordada) ainda posso não é?
Considerando todos estes fatores, é redundante dizer que fui de arrasto até o aeroporto. Até tentei tomar um café da madrugada manhã, mas não resolveu. Os bocejos pareciam me levar para outra dimensão.
Quando enfim, entrei no avião, mal podia esperar para sentar na poltrona e tentar tirar um cochilo. Tudo bem se as poltronas não reclinam tanto, ou se o espaço entre elas é o mínimo aceitável. Quem se importa com isso, quando as olheiras que vão dos olhos ao queixo clamam por uma cochilada que seja.
Mas nem tudo é perfeito, e não é segredo algum que Murphy me acompanha. Até nas viagens.
O caldo já começou a entornar quando descobri que meu assento era no corredor. Não que eu goste de ver a vista lá de cima. Aliás eu gosto mesmo é de nem lembrar que estou lá em cima. Ocorre que os assentos da janela me dão uma falsa impressão de mais espaço e privacidade. Que seja somente impressão, mas pelo menos consigo me recostar e ferrar no sono sem correr o risco de babar no ombro de alguém.
Enquanto eu torcia pra os dois passageiros que ocupariam respectivamente os bancos da janela e do meio tivessem um mal súbito e não pudessem embarcar, apareceu a felizarda proprietária do assento da janela.
Enquanto eu a olhava e divagava sobre como o mundo as vezes é injusto, visto que a moça estava com uma pele maravilhosa, um cabelo bem escovado e a maquiagem em dia, e que portanto deveria ter tido uma bela e longa noite de sono, chega o “companheiro” do assento do meio. Mal pude concluir meu pensamento que em breve daria conta que a tal moça era um ser humano sem escrúpulos por não ter sequer a sensibilidade de me oferecer para trocar de lugar. Custava perceber que eu mal abrira os olhos? Pessoas cansadas e com sono deveriam ter atendimento preferencial nas empresas. Deveriam poder não ficar em filas de bancos nem de supermercados... Quiçá ter de ocupar o assento do corredor.
Distraída com meus pensamentos direcionados a mocinha desalmada, mal percebi que meu futuro vizinho de banco esperava quase debruçado por cima de mim que eu levantasse pra ele poder passar.
Dei passagem meio a contragosto. Afinal,que jeito?
Esperei que ele se recompusesse da maratona de passar dentre as poltronas apertadas e sentei para tentar folhear minha revista.
A medida que o cidadão espichava os olhos para a página que estava lendo e me olhava como quem quisesse debater a matéria publicada, eu ia fechando a cara e dando um jeito de colar os olhos na revista para que por fim ele percebesse meu interesse e não ousasse invadir meu silencio matinal e vetar qualquer possibilidade de aproximação.
É óbvio que não adiantou.
Ele agüentou até que o avião decolasse, mas não conseguiu mais se conter e disparou com um sotaque estranho, quase paraguaio:
-Sabia que é a primeira vez que viajo no meio de duas mulheres caladas?
Não consigo certamente descrever com perfeição meu semblante ao ouvi-lo. Mas ele girava em torno da incredulidade.
Não consegui responder nada além de balançar a cabeça e dar um sorriso amarelo que se aproximava muito de uma rosnada.
Cogitei responder que eu adoraria continuar calada o restante da viagem, mas preferi que meu silencio lhe servisse de resposta.
Ele não se deu por satisfeito (o chato é sempre um persistente)
- Isso é comum aqui no Brasil?
Fechei a revista e o encarei firmemente na esperança de que ele lesse minha legenda cerebral que gritava em caixa alta: NÃO.COMUM É AS PESSOAS SENTAREM QUIETAS SEM PUXAR ASSUNTOS IDIOTAS COM DESCONHECIDOS.
Mas ele não leu e eu com muito esforço consegui levantar os ombros sem entender onde é que ele queria chegar com aquele papo aranha.
Voltei os olhos para revista e a aproximei o máximo que pude do rosto para o desavisado perceber que eu definitivamente não queria papo. Mas ele deve ter no máximo concluído que eu era míope e não surda.
Como eu disse, a persistência é a virtude máxima dos chatos. Ele não se fez de rogado:
- Vocês brigaram? (apontando para mim e para a moça felizarda da janela que dormia o sono dos justos).
- Não Senhor. Eu nem a conheço.
Fechei a revista num movimento brusco, enfiei os óculos e fingi que estava dormindo, virando para o outro lado. Digo fingi, porque aquelas alturas o sono já não me era tão presente quanto a irritação que o individuo me causou.
Fiquei ali firme o forte de olhos cerrados pensando em como me controlar se ele me dirigisse a palavra outra vez. Juro que cheguei a planejar dizer que não podia falar porque tinha arrancado o dente siso, mas o inconveniente certamente ia querer maiores explicações ou usaria minha resposta como desculpas para dissertar sobre o assunto.
Comecei depois de alguns minutos a ouvir um ruído estranho e espiei levemente entre as pálpebras com medo de ser pega em flagrante na minha farsa do sono forçado. Descobri então que o ruído era produzido pelo ronco do chato.
Porque é claro minha gente: chato que é chato, não perde a majestade nem quando está dormindo.

Então tá!



quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Precisamos jogar futebol





Dia desses, ouvi uma declaração muito curiosa da jornalista Monica Waldvogel. Ela dizia que possui uma teoria sobre as relações interpessoais entre as mulheres nas organizações. Mais precisamente sobre a diferença em como os homens se relacionam com colegas homens, em relação ao relacionamento que nós mulheres temos entre nós nas empresas.
Segundo a teoria de Monica, os homens têm mais sucesso nesses relacionamentos, pois passaram a infância jogando futebol, enquanto nós mulheres passamos a infância brincando de casinha e de bonecas. Ela explica:
Os homens quando estão jogando futebol, têm suas posições bem definidas. O zagueiro, sabe que ele não pode ficar lá na frente atacando, querendo fazer o gol, pois sua função é auxiliar a equipe a se defender. Ele sabe que o atacante, tem uma posição de muito mais destaque do que a dele, mas sabe também que sua posição é fundamental para o bom resultado do time.
O meio campista, por sua vez, sabe que sua função é servir ao atacante para que esse finalize a jogada, além de observar os laterais, auxiliar na marcação. Para isto, ele precisa estar atento a tudo que acontece a sua volta. Na sua equipe e também na equipe adversária.
Existem regras. Mas estas podem ser burladas em prol da equipe. Por exemplo, quando um jogador comete uma falta a fim de evitar uma jogada de risco do jogador adversário. Se esta falta ocorrer em sua área, ele é penalizado (pênalti). Ele aceita sua punição e sabe que com isto o adversário tem a chance de ter vantagem no jogo, caso faça o gol.
Mesmo assim, a equipe não se volta contra ele. Sabe que, todos ali, estão tentando de todas as formas jogar pelo melhor resultado da equipe. Eles não discutem entre si em campo.Não discutem a “relação”, não deixam que a vaidade prevaleça sobre o objetivo maior do grupo que é ganhar.
Isto fica, quando necessário, para o vestiário no intervalo do jogo. Lá é o local e o momento de ajustar a equipe, acertar os erros, planejar estratégias etc. É lá também que ocorrem as discussões mais acirradas, as conversas mais ríspidas, os ânimos mais alterados.
E é lá que as diferenças ficam, quando eles novamente entram em campo.
Nada daquilo que foi debatido no vestiário é levado a campo assim como também não é levado para o lado pessoal. Todos ali sabem que quando um “xinga” o outro, está na verdade querendo que ele dê seu melhor porque sabe do que ele é capaz e que pode dar o seu melhor.
Não existem dramas, nem “vingancinhas”. Não há tempo, nem espaço para isso. Eles têm foco.
Não há represália ao colega que não deu o passe certo, ou que prendeu a bola quando deveria passar.
Não há tempo de cuidar se o colega está com a chuteira mais bonita do que a sua, nem de tentar obrigar ele a usar uma que lhe agrade mais.
Cada um tem a exata noção de seu espaço e importância no jogo.
Quando tudo dá certo e o gol acontece, todos comemoram e não só quem o fez. Porque todos participaram com sua parcela fundamental de contribuição – mesmo os que não encostaram na bola.
Quando o jogo acaba, independente do resultado, eles voltam para casa/clube e seguem companheiros. Não há mágoas, não há passionalidade ou preciosismo. E possivelmente muitos deles, quando além de colegas se tornam amigos, irão comemorar o resultado positivo, tomar uma cervejinha juntos tendo a consciência de que sozinhos são apenas atletas, mas que unidos e em campo, formam um time.
Eles se esfolam em campo, as vezes mesmo entre si. Mas saem dali abraçados num propósito maior: o de vencer como time.
Achei profundamente inteligente a teoria de Monica; Talvez tenhamos mesmo muito que aprender com eles neste “campo”.

Então tá!

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Me vê o Verão por favor...



Pronto, cansei. Não quero mais brincar de inverno. Me rendo.
Quero morrer espirrando com os polens da primavera, torrar Porto Forno Alegre no verão e até posso pensar em botar um casaquinho no outono, mas do inverno eu quero demissão.
Já gostei muito de inverno. Quando há muitos anos atrás eu não precisava levantar da cama as 06h30 da manhã, com a sensação de estar entrando num freezer. Lá numa época longínqua em que minhas obrigações eram sempre marcadas para depois que eu acordasse. Leia-se: Depois que eu acordasse a partir das 10h da manhã.
Achava puro glamour ver aquelas mulheres lindas com botas, cachecóis, tocas e casacões. Ainda acho... Mas isso se resume as fotos nas revistas de moda ou na TV.
Outro dia uma colega de trabalho, que por sorte do destino trabalha em Natal – RN ligou me dizendo emocionadíssima que tinha visto a neve pela tevê e achado linda aquela cena com o chão branquinho e termômetros abaixo de zero.
Ela não acharia lindo se tivessem transmitido um ser humano normal (eu) com este mesmo frio, tendo que tomar banho, lavar roupa, louça e etc. com esta temperatura desumana. Até para fazer xixi a gente pensa duas vezes. Uma para sentar no vaso gelado e outra para lavar as mãos na água mais gelada ainda.
Não, definitivamente não há Sex Appeal que se mantenha quando é necessário vestir um pijama quente e meias até os joelhos para dormir.
E é por isso,por tudo isso que Eu, Vanelise Chaves Ferreira,cidadã porto alegrense (e que tem o maior orgulho de ser gaucha), prometo JAMAIS, NUNCA, DE MODO ALGUM voltar a reclamar do calor.

Então tá!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Insônia de Inverno







Vou virar para o lado direito, para me aconchegar melhor. Mas a mão ficou gelada. Puxa a coberta. Droga, descobriu o pé.
O lençol embolou. Já são 23h50. Liga a tv.NÃO!! é pior.! Silencio, os outros dormem.
Fecha os olhos que o sono vêm; Abre o olho e espera o sono vir. Põe outro travesseiro, ajeita a coluna. Ficou muito alto. Tira os travesseiros. Mas qual era mesmo a posição ideal para se dormir conforme aquela revista? Ah sim, travesseiro entre as pernas. Esquece, está frio para toda esta manobra. Mas dormir sem travesseiro também era bom, já dizia minha avó. Ou era sem colchão?
Vontade de trocar esse colchão. Colchão vagabundo. Quantos anos faz mesmo? Esquece isso, dorme. Mas já deve fazer uns 4 anos, já que minha filha tem 6. Quantos falta para os 15 anos dela? 9...estarei com 38. Hã? Quase 40...acorda, isso deve ser pesadelo. Não, é pior pois se fosse eu pelo menos estaria dormindo.

Aquela historia de contar ovelhinhas procede? 1,2,3,4,5...ovelha é um bicho estranho pacas não? Parece um monstrinho que tentaram enfeitar com lã. Mas daí tiram a lã, e vira o próprio monstrengo. Parei em quantas mesmo? Contar me irrita, mas sono que é bom nada. Irritação deve tirar o sono, então esquece as ovelhas.
Esse pijama sobe e deixa meia perna de fora, e esse frio desgraçado que não passa congela as pés. Eu tinha um meião de lã. Por que mesmo que eu dei? Ah sim, porque era medonha. Mas me faria feliz nessa noite gélida. Eu poderia colocá-la por cima das calças. Sim, brochante eu sei, mas estou dormindo sozinha então vale.
Não sei porque diabos moro aqui nessa geleira. Ainda vou me embora para o Rj...onde as pessoas são felizes. Ou pelo menos podem sorrir sem congelar.
PQP, 00:42! Confere o despertador para ver se está mesmo com o alarme para 06h30. 00h42 às 06h30: pouco menos de 06hs.
Mas o ideal não seria dormir 08h? Putz, as olheiras! Vão estar medonhas amanhã. Quem se importa com as olheiras se eu mesma estarei o próprio bagaço?
O que mesmo eu tenho que fazer amanhã? Ah sim, trabalhar, pagar contas, fazer a unha, pensar no que comer no jantar, e-mail, Orkut, twitter, facebook, blog meu, blogs interessantes. Dar comida para o cachorro, separar a roupa branca da colorida. A máquina deveria fazer isso sozinha não? Poxa, ela custou caro. Custava estender a roupa no varal?
Conferir as tarefas da filha, brincar com a filha, chamar atenção na filha, dar banho na filha, botar a filha pra dormir.. shhhhhh pensa mais baixo, ou a filha vai acordar.
Pensando bem, quem deve mesmo estar congelando é a minha cachorra na rua com este frio. Ah bom, mas eles tem uma capa de gordura que retém o calor. Ou isso quem tem é baleia?
Jesus, por tudo que é mais sagrado, já são 03h25 e eu preciso ser tomada pelo sono. Beber resolve? Vou tomar uma taça enorme de vodcka, rum, quem sabe whisky?  Mas morrerei e não posso me dar ao luxo de somente ressuscitar ao terceiro dia como vós. Rezar resolve? Pai nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome. Santa Maria mãe de Deus.  E o santo anjo do senhor, entra onde mesmo?
Bem que minha cunhada avisou que eu devia aprender a rezar o terço. Mas se não tenho saco para contar ovelhas, quiçá para contar as bolinhas do terço. Ah não são para contar? Preciso repensar minha fé, afinal a fé não costuma “faiá”.
Se amanhã fosse sábado eu pelo menos dormiria até o meio-dia, mas Murphy não me faria ter insônia um dia antes de poder recuperar o sono, evidente que não. Que graça haveria?
Já vejo a claridade pela janela...está amanhecendo e eu aqui nesta noitada infinita que me custará as olheiras da cara. Injusto, muito injusto.
Logo agora que meus olhos pesam, e eu consigo ao longe escutar uma musica suave de ninar...ela se repete num tananá tão leve.
Está aumentando um pouco volume. Um pouco mais agora...Quase começando a incomodar...Hum, onde?  
O que?? 06h30???
Bom dia pra você também despertador desgraçado!







sexta-feira, 30 de julho de 2010

Não Buzine




E que medo eu tinha de passar pelo "Viaduto da Conceição".
Era avistar a plaquinha de "Não Buzine " e minhas orações infantis começavam, e o medo parecia inundar meus órgãos, dando um nó na garganta.
Com toda a fé que me era possível aos 5 anos de idade eu pedia encarecidamente ao Sr. Papai do Céu que não permitisse a nenhum motorista buzinar. Por favor, por favor, por favor.
A aflição só passava com o alivio de chegar ao fim do túnel literalmente.
Tudo porquê (tudo tem um porque) eu insistente e sempre curiosa perguntei repetidamente à minha mãe: Por que não pode buzinar dentro do túnel? Cansada demais para explicações técnicas e em busca de uma resposta que cessasse meu interrogatório, ela não teve duvidas ao garantir: Porque se alguém buzinar aqui dentro, o túnel desaba.
Pronto.
Bastou.
Era a senha que meu pânico precisava para se instalar. Por anos, e anos eu tive medo de passar por ali com medo que o dito desabasse.
Não desabou, eu não rezo mais com tanto afinco a entrar em um túnel, mas ainda não gosto deles.
Me sinto sufocada, espremida, esmagada.
Mais ou menos como pensar em ser enterrada a sete palmos. Já disse: Não ousem, ou volto pra puxar as orelhas.
Me cremem, e me deixem voar. Ou então me deixem boiar no mar, onde eu tanto gosto de estar...mas não me soterrem.
Me bastam os tuneis.

Então tá.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

De Malas Prontas





Enfim, chegou o tão esperado e merecido momento das férias.


Que sejam intensas e inspiradoras...


Au revoir



segunda-feira, 28 de junho de 2010

A Copa do Mundo é nossa?






Pela primeira vez durante esta copa, assisti o jogo na íntegra, ali prestando atenção mesmo.
Nos anteriores, eu sempre estava fazendo alguma coisa paralela, e dando aquela olhadela nos lances mais interessantes.
Mas hoje, pude assistir mesmo, todos os lances. Tipo familião mesmo com direito a sofá da sala, pipoca e café quentinho no intervalo.
E todo esse staff me permitiu um outro olhar sobre a partida.
Mesmo não entendendo patavinas sobre esquema tático e outras cositas que definitivamente não foram feitas para mulheres entenderem, alguns lances extra campo me chamaram bastante atenção. E não, não foram as pernas dos jogadores, já que as que mais me agradam – as de Nilmar – demoraram bastante para entrar em campo.
A primeira delas, e que é inevitável falar, é sobre a paixão recolhida de Galvão Bueno para com o Kaká. 
Nada contra o bom menino, deve ter seu mérito já que é convocado a tanto tempo. Mas daí a praticamente dizer que a seleção se resume a Kaká e seus 10 companheiros, já é um pouco demais, não? Não disse, mas faltou muito pouco.
Parcialidade, teu nome é Galvão Bueno.
Até a avó do garoto, escalaram para ser comentarista, como se já não bastasse o Casa Grande.
E os outros 11? Não tem mãe? Avó? Família torcendo?
Até depois da substituição de Kaká, Galvão elogiou o sorriso do jogador no banco de reservas!!
A verdade é que o cara encostou poucas vezes na bola, e na maioria delas se atrapalhou com as próprias pernas. Não lhe tiremos o mérito de ter dado o passe para um dos gols, mas para ídolo mor do país, ele vai ter de comer ainda muito arroz e feijão.
Já a FIFA elegeu Robinho como o melhor em campo. E eu que mal notei que ele estava em campo? Vai entender...
O curioso é que cada copa, Galvão elege o menino prodígio que será alvo dos seus mais adocicados elogios. Já foi a vez de Romário, Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho, etc. 
Mas a paixão por Kaká parece ter superado todos os níveis de admiração do Sr. Bueno.
Chega a ser divertido ouvir a narração, que além do mais vem recheada de pérolas como a palavra repetida incorretamente milhares de vezes: SUPERTIÇÃO.  Who?
E por falar em assassinar o português, não pude deixar de notar que Luis Fabiano “dribou” o zagueiro.
Tampouco passou em branco o recado que a mãe de Kaká mandou “pu” Dunga.
E como Vovozinha também erra, D. Vovó do menino Kaká, só chamou Galvão de “Dalvão” umas 12 vezes.
É minha gente...o futebol melhora a vida de muita gente. Mas a escola continua fazendo falta na maioria delas

Então tá! 

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Eu sou SHE RA...e quem duvida?



Sou de um tempo bem bom. De uma infância leve e de alegrias profundas.
E são de lá, deste tempo que em mim ficou guardado, que carrego as lembranças de momentos que me fizeram ser quem sou, de estar onde estou. E de pensar com certo distanciamento e orgulho sobre tudo isso.
Naquele tempo, não fazia mal entrar na piscina de plástico, colocada perto do Butiazeiro, onde se murchava na água, até o dia findar.
Naquele tempo, em que a TV era uma Telefunken de seletor (quebrado), e o telefone – artigo de luxo- era um aparelho de discar. E era de discar não por acaso, mas por que era preciso rodar o disco para telefonar para alguém. E o telefone deste alguém continha apenas 6 dígitos. Não havia operadoras para longas distâncias. E provavelmente as ligações à longa distancia eram tão caras, que era melhor economizar para viajar nas férias até a casa de quem se quisesse telefonar.
E quanta gente enriqueceu vendendo cotas da empresa de telefonia?
Novos amigos eram feitos todos os dias: na escola, na rua. Ah a rua! Sou do tempo em que fechávamos a rua nos finais de semana para estender uma rede de vôlei e jogar até as pernas não agüentarem mais. E olha que elas (naquela época) agüentavam bastante. Não precisava ter o time. Os atletas chegavam aos bandos e se juntavam num sincronismo invejável.
Nilcon era o segundo esporte oficial da rua. Também rendia bons duelos. E bons gastos com Merthiolate no joelho também.
A rotina durante a semana era sagrada: Chegar em casa da escola, comer alguma coisa, fazer o “tema”, e voar as tranças para a rua. Andávamos de bicicleta, inventávamos rotas fantasiosas, e criávamos esconderijos para o caso de inimigos imaginários aparecerem. Montávamos barraca no fundo do pátio, que se tornava a casinha de bonecas. Dava mais trabalho carregar toda a parafernália para “mobiliar” a casa, que quando acabávamos, já era hora de encerrar a brincadeira.
Mas brincávamos de trabalhar também. E as mais cobiçadas profissões eram: Caixa de supermercado e Secretária. Qualquer máquina de escrever velha, fazia as vezes da caixa registradora.
Quando o tempo não colaborava, brincávamos de jogar stop. Muita coisa aprendi ali, tenho certeza.
Neste mesmo tempo, colecionávamos pastas e mais pastas de papéis de carta, com seus desenhos de cores suaves. Nunca serviram para escrever carta para ninguém, mas eram exibidos como troféu. Como dói tê-los jogado fora.
Na hora do recreio, não havia tempo a perder. Fazia parte de um bando de meninas que se juntavam religiosamente todos os dias, para um emocionante campeonato de pular elástico. Eu era boa naquilo.
O lanche da escola era levado de casa. Normalmente pão, leite com Nescau, quem sabe uma fruta. Refrigerante? Só em aniversários ou finais de semana “especiais”.

Não havia sites de relacionamento, quiçá computadores. Uma tecnologia longínqua demais para os limites de nossa imaginação. Mas toda sua geração tem uma “ferramenta marco”de interação. A nossa, eram os Questionários. As perguntas eram clássicas e piegas. As respostas idem. Aliás, IDEM era uma das mais utilizadas. Seria hoje o equivalente a um Trending Topics no Twitter de hoje.
Usávamos vestido trapézio, blusa balonê, saia-calça, mini saia xadrez com meia até o joelho e cuturno. O cabelo era liso e a franja repicada. Maior sucesso nas “reuniões dançantes”, ao som de Cindy Lauper e Roxette. As gurias levavam os comes, e os garotos os “bebes” que quando muito se resumiam a litros e mais litros de refrigerante, e meia garrafa de cachaça surrupiada da geladeira da mãe de alguém para fazermos o famoso Hi Fi.
Festa junina na escola, era época de vender votos, para disputar o cobiçado posto de “mais bela(o) caipira”.
A “Feira de Ciências” era a chance da descoberta de tantas novas possibilidades, que nos sentíamos pequenos inventores malucos.
O Natal demorava tanto, mas tanto a chegar, que as vezes dava a impressão de que Papai Noel havia esquecido de trazer o tão sonhado “Pogobol”.
Barbie de verdade? Um luxo para poucas. A Susy estava de bom tamanho.
E quem se importaria em ter uma Barbie, quando sonhávamos mesmo e erguer uma espada e dizer: EU SOU SHE-RA!!
E não havia, nenhuma sequer dessas meninas, que não tivesse sonhado em ser Paquita – nem que fosse por um dia.
É tão bom 
Bom, bom, bom 
Quem quer pão 
Pão, pão, pão 
Bom estar contigo na televisão 
É tão bom 
Bom, bom, bom 
Quem quer pão, 
Pão, pão, pão 
Bom estar contigo no meu coração 

Talvez só a maturidade nos dê essa capacidade de enxergar o quão precioso são os momentos que passamos e que parecem ter ficado em algum lugar mágico no fim do arco Iris.
Que seja ela então, que nos faça ser capaz de proporcionar a nossos filhos, valores que permitam entender o quão é possível aproveitar a vida preocupando-se mais em  SER do que em ter. Afinal, é o que se leva: lembranças de uma vida feliz.
Então tá!